Justiça célere só para o patrão

Carga policial na <em>Pereira da Costa</em>

O comportamento da PSP que foi anteontem enviada à empresa para dar cobertura à retirada de bens, reforçou a confiança dos trabalhadores na luta e na vigília.

A vigília vai continuar até que se faça justiça a estes operários

Naquela manhã, o administrador, Luís Moreira, apresentou-se no estaleiro com a oficial de justiça, para dar cumprimento a uma decisão judicial que, na semana passada, tinha dado razão a uma providência cautelar, pretendendo retirar viaturas e materiais.
Saliente-se, a propósito, que os trabalhadores exigem, há seis meses, que sejam cumpridas leis e decisões judiciais desrespeitadas impunemente pela administração de Luís Moreira.
Quando, pouco depois das 18 horas, a nossa reportagem chegou às instalações na Venda Nova, Amadora, estavam o presidente do Sindicato da Construção do Sul, João Serpa e o coordenador da União dos Sindicatos de Lisboa da CGTP-IN, Arménio Carlos a informar os trabalhadores sobre as garantias dadas num «acordo de cavalheiros» - como o classificou, no local, o comissário da PSP que negociou a saída dos bens com os dirigentes sindicais, Sarmento Gaspar. A polícia tinha garantido aos operários que só sairiam das instalações mais dois camiões carregados de sucata.
No entanto, logo atrás dos camiões surgiram três automóveis familiares.
Ao aperceberem-se de que o «acordo de cavalheiros» não fora cumprido e que tinham sido enganados pela própria PSP, os trabalhadores indignaram-se. Nessa altura, o dispositivo policial era já impressionante pela sua dimensão: constatámos a presença de mais de 20 elementos da polícia fardados formando dois cordões humanos em corredor para apoiar a saída dos carros e um grupo de mais de dez indivíduos vestidos à civil e sem identificação, do outro lado da estrada.

Detenção injustificada

Ao tomar conhecimento de que Luís Moreira ia ao volante de um dos automóveis, o dirigente do Sindicato da Construção, Pedro Miguel, quis conhecer o personagem que nunca tinha visto e tentou aproximar-se das viaturas contornando um cordão policial composto pelos elementos fardados, numa altura em que os que estavam à civil carregaram sobre os operários e os que ali estavam em solidariedade.
Foi nesta altura que, de forma desproporcionalmente violenta, os agentes à paisana o agarraram e tentaram levá-lo para dentro de uma viatura também não identificada.
O dirigente sindical detido explicou à nossa reportagem que nunca lhe foram explicados quaisquer motivos para a agressão e detenção de que foi vítima.
Ao regressar à porta da empresa, depois de ter estado detido duas horas na esquadra da Reboleira, Pedro Miguel explicou que apenas se recusou a entrar na viatura porque nenhum dos policias à civil que o agarraram se identificou e ele receava que se tratasse, novamente, dos «arruaceiros» de Luís Moreira.
À detenção de Pedro Miguel responderam os trabalhadores com indignação, exigindo a sua libertação.
Ao regressar da esquadra da Reboleira, Pedro Miguel foi recebido com aplausos dos trabalhadores e gritos a garantir que «a luta continua».

Solidariedade com a luta

No fim dos desacatos e após o regresso de Pedro Miguel da esquadra, Arménio Carlos, Fátima Messias e João Serpa garantiram, debaixo de uma salva de aplausos de confiança, que a vigília vai continuar até que os trabalhadores recebam os salários em atraso desde Setembro, que o património retirado seja devolvido à Pereira da Costa Construções e que 45 deles sejam readmitidos, como decidiram sentenças judicias, em Outubro e Novembro de 2006, por considerarem que os despedimentos foram ilícitos.
Dirigentes da USL/CGTP-IN e activistas do PCP que têm acompanhado, em solidariedade, a vigília dos trabalhadores desde o seu começo, a 1 de Outubro do ano passado manifestaram o seu apoio à continuação da luta e da vigília até que os operários obtenham dos tribunais e do Governo – que é dono de 90 por cento da massa falida da empresa e não Luís Moreira – a Justiça que lhes é devida.
Os sindicatos garantiram também que vão recorrer da providência cautelar que motivou o desacato.
A CGTP-IN apelou à intervenção do ministro da Administração Interna e o PCP anunciou que vai pedir, na Assembleia da República, explicações sobre a acção da polícia. Ambas as estruturas manifestaram, prontamente, a sua solidariedade com estes trabalhadores.

Jornalista do Avante! agredido

O repórter do Avante! também se viu confrontado com a forma como, pelo menos quatro homens sem farda imobilizavam Pedro Miguel, agarrando-o violentamente, todos ao mesmo tempo.
Ao levantar os braços e apelar ao fim da violência sobre o dirigente sindical, foi também ele foi agarrado por trás e atirado ao chão por um outro homem, também não identificado.
Quando, depois da queda, o mesmo «civil» avançou novamente sobre o jornalista, um operário interveio para informar o agressor de que o agredido era jornalista. Só nesse momento é que o paisana mudou de atitude e pediu desculpas pelo ocorrido.
Se o agredido fosse um normal civil, a história não teria ficado por aqui.
O repórter e Arménio Carlos dirigiram-se ao comissário da PSP, dando conta da agressão. Imediatamente, os paisanas que nunca se identificaram foram chamados pelo superior. Ao jornalista - e apenas a ele - foram pedidas desculpas. Os subordinados tiveram ordem para que abandonar o local.

A força da razão

Como consta do comunicado emitido pelo Sindicato dos Trabalhadores da Construção do Sul, o despedimento «ilegal e arbitrário» destes trabalhadores foi um «desafio às decisões judiciais».
O empresário abandonou as instalações em Novembro de 2006 e transferiu os serviços administrativos para Lisboa e a produção para a Ramada, em Odivelas.
Por três vezes, desde o início da vigília, tentou, durante a noite, acompanhado «por um grupo de arruaceiros», retirar da empresa bens, equipamentos de escritório e documentação. «Só não o conseguiu graças à resistência dos trabalhadores e à acção da PSP», informa o comunicado.
É também denunciado que, em Julho de 2005, foi criada uma nova empresa, a Preidacosta, de que são sócios o seu filho e um seu sobrinho para onde tem sido transferido o património da Pereira da Costa.
A administração «tem-se furtado a comparecer ao acto de escritura da propriedade», motivo pelo qual esta não é sua, mas do Estado.
O sindicato expôs o caso ao primeiro-ministro e à Procuradoria Geral da República para que se apurassem responsabilidades no plano pessoal e criminal e classifica a providência cautelar a favor do administrador como «um amontoado de mentiras».


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